A Quem Me Abrir - Jaime Caetano Braun

Quem me abrir, que não repare


Pelo trabalho grosseiro

Pois desde o feitio do apero

Trançado com muita ciência

Se nota a rude aparência

De humilde verso tropeiro!



Sou verso xucro que guardo

Na feição regionalista

A evocação da Conquista

E lutas de ferro branco

Naquele linguajar franco

De gaúcho fronteirista!



Não tenho grande linhagem

Mas da cria estou seguro

Não tem branco é cerne puro

De raça classificada

Que topa qualquer parada

Tranqueando de lombo duro!



Nasci na beira da sanga

Tenho gosto de flexilha,

Trevo e grama de forquilha,

Por onde as vezes me largo

Sou ronco de mate-amargo

De algum fogão farroupilha!



Sou fleco de pala guasca

Bordado por mão de china

Tenho gosto da resina,

Que dá na casca do ipê

Sou quincha de santa-fé

Nos ranchos de triste sina!



Sou cordeona de voz rouca

E nos bochinchos impero

Sou pingo amigo sincero

Que a gente quer com afinco,

Sou clarim de trinta e cinco

No bico do quero-quero!



Sou bagual que corcoveio

Quando puam na paleta,

Noite tormentosa e preta

Rebenqueada pelo vento,

Sou duende que me lamento

Nos guinchos de uma carreta!



E os outros assim como eu

Nesta tropilha de um pêlo

Hão de ficar pra sinuelo

Guardando cheio de ciúmes

A tradição e os costumes

Da raça que foi modelo!