Quem me abrir, que não repare
Pelo trabalho grosseiro
Pois desde o feitio do apero
Trançado com muita ciência
Se nota a rude aparência
De humilde verso tropeiro!
Sou verso xucro que guardo
Na feição regionalista
A evocação da Conquista
E lutas de ferro branco
Naquele linguajar franco
De gaúcho fronteirista!
Não tenho grande linhagem
Mas da cria estou seguro
Não tem branco é cerne puro
De raça classificada
Que topa qualquer parada
Tranqueando de lombo duro!
Nasci na beira da sanga
Tenho gosto de flexilha,
Trevo e grama de forquilha,
Por onde as vezes me largo
Sou ronco de mate-amargo
De algum fogão farroupilha!
Sou fleco de pala guasca
Bordado por mão de china
Tenho gosto da resina,
Que dá na casca do ipê
Sou quincha de santa-fé
Nos ranchos de triste sina!
Sou cordeona de voz rouca
E nos bochinchos impero
Sou pingo amigo sincero
Que a gente quer com afinco,
Sou clarim de trinta e cinco
No bico do quero-quero!
Sou bagual que corcoveio
Quando puam na paleta,
Noite tormentosa e preta
Rebenqueada pelo vento,
Sou duende que me lamento
Nos guinchos de uma carreta!
E os outros assim como eu
Nesta tropilha de um pêlo
Hão de ficar pra sinuelo
Guardando cheio de ciúmes
A tradição e os costumes
Da raça que foi modelo!